A gente já nasce e começa a morrer. É o que diz o músico e compositor Toquinho, repleto de razão, resumindo poeticamente a grande angústia humana. Assim é a vida, em sua finitude, sua fragilidade, e no seu medo intrínseco que, de repente, tudo pode acabar.

Essa é uma grande angústia universal, mas que de forma alguma precisa ser totalmente deprimente. A dor e o desamparo de se saber passageiro também é a origem de uma força muito poderosa que a gente conceitua como espiritualidade. É ela a resposta humana diante da potência e também do absurdo que é viver, mostrando como a vida pode ser criativa e acolhedora, se a gente reconhece isso tudo e se abre para mergulhos mais profundos.

O problema é que essa não é a realidade da maioria. Aliás, essa não é a realidade de uma enorme maioria. Hoje, a gente vive uma epidemia da descrença, da desconexão e, sobretudo, da desesperança. Falta espiritualidade, falta fé no próximo, falta fé na sociedade, fé no presente e, pior, fé no futuro.

E uma pessoa desesperada não consegue pensar na próxima hora, não consegue pensar no dia seguinte, não consegue olhar para o lado e não consegue imaginar o futuro da sociedade. O grande sintoma de uma humanidade que fecha os olhos para as suas fragilidades, que não reconhece seu desamparo, que tenta domesticar a vida com respostas objetivas, é um cenário dos mais perversos: um mundo reativo, autoritário, bélico, individualista e demasiadamente desumano.

O projeto original Esperançar propõe um futuro diferente. Vamos namorar o desamparo, nomear as fragilidades, reconhecer nossas carências e fazer as pazes com a finitude da vida. O ponto de partida é o primeiro passo de admitir que ela é mais dádiva e menos propriedade. E que está a todo tempo fora do nosso controle. Nada prepara mais uma pessoa para viver em sociedade do que a experiência transformadora de se entender vulnerável. Afinal, olhar para dentro é um exercício coletivo de compaixão, que se traduz na capacidade de se saber falho, e compreender que o outro pode ser também.

Esperançar é sair do desespero do “cada um por si”. É reencantar a vida. É acreditar na possibilidade de um futuro. É esperançar de forma comunitária. E com isso transformar o mundo.