
Ética e pós-verdade
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Narrado por:
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Ruan Vinícius
Sobre este áudio
Debruçar-se sobre a nossa realidade política, social e artística é um exercício que hoje requer a aproximação de um conceito que é discutido há pelo menos dois mil e quinhentos anos com outro recém-chegado ao léxico das grandes questões e que hoje praticamente define o contemporâneo. Ética e pós-verdade discute o tema em diferentes campos da criação e da reflexão ao reunir cinco ensaios com enfoques que passeiam pela política, psicanálise, filosofia e literatura, cinco abordagens distintas apresentadas por grandes nomes da cena cultural e intelectual brasileira.
©2017 Christian Dunker, Cristovão Tezza, Julián Fuks, Marcia Tiburi, Vladimir Safatle,2017 Editora Dublinense (P)2025 Audible, Inc.O que os ouvintes dizem sobre Ética e pós-verdade
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Geral
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Narração
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História
- Júlio Augusto
- 29/03/2025
Reflexões sobre um mundo líquido
Desde o início, fica claro que esta não é uma obra introdutória; ela exige do leitor um certo preparo intelectual e disposição para lidar com ideias densas e, por vezes, abstratas.
Quero começar destacando uma citação marcante de Márcia Tiburi, autora do quarto ensaio:
"Um fenômeno que vem nos mostrar algo importantíssimo acerca da cultura: o gosto pelas verdades. Gostamos de verdades, venham elas das ciências naturais, venham das ciências humanas. Verdades são certezas reconhecíveis, referem-se a algo que podemos reter mesmo sem compreender. Toda verdade sustenta. É como alimento. Há verdades para classes sociais e culturais, há verdades religiosas. A verdade que possa provir de uma fonte como Deus é deixada aos econômica e culturalmente mais pobres, enquanto é manipulada pelos que detêm os meios de produção do discurso religioso. O mesmo vale se colocarmos o capital no lugar de Deus. Ora, Deus é um nome para uma ideia que vale como verdade. Capital é o que vale." (p. 88)
Essa passagem sintetiza com precisão a essência do debate sobre a pós-verdade: a manipulação das "verdades" conforme interesses econômicos, políticos e culturais. Desde os gregos clássicos, a busca pela verdade foi central na filosofia, mas hoje vivemos em tempos em que a verdade se tornou maleável, adaptável às conveniências individuais ou coletivas. A pós-verdade não é apenas aquilo em que acreditamos; é aquilo que queremos acreditar – um reflexo de nossas preferências emocionais e narrativas pessoais.
O livro aborda essa questão sob diferentes perspectivas. Christian Dunker explora como a pós-verdade afeta nossa subjetividade e as dinâmicas sociais contemporâneas. Ele argumenta que vivemos uma "disciplina personalista da vontade", onde o excesso de indefinições da pós-modernidade gerou um movimento regressivo em busca de certezas absolutas – algo que ecoa nas polarizações políticas e culturais atuais.
Cristovão Tezza traz uma reflexão literária ao discutir a "ética da ficção". Ele sugere que a literatura pode ser um antídoto contra os dogmatismos da era da pós-verdade ao promover o reconhecimento do outro e do inacabamento humano. No entanto, confesso que seu ensaio não me cativou tanto quanto esperava; talvez pela abordagem mais técnica ou menos envolvente em comparação aos outros textos.
Já Julián Fuks analisa as transformações do romance contemporâneo na era da autoficção. Embora sua escrita seja elegante e bem fundamentada, foi o ensaio que menos me impactou – talvez por não trazer insights tão inovadores quanto os demais.
Marcia Tiburi, como sempre, brilha ao articular filosofia com questões práticas da vida contemporânea. Seu ensaio sobre "delírios digitais" é provocativo e atualíssimo ao examinar como as redes sociais amplificam as distorções da verdade e alimentam discursos autoritários disfarçados de autenticidade.
Por fim, Vladimir Safatle encerra o livro com uma reflexão poderosa: "É racional parar de argumentar." Essa frase ressoa em tempos em que o diálogo parece cada vez mais inviável diante de bolhas ideológicas e afetivas. Safatle questiona se ainda há espaço para a racionalidade num mundo onde as emoções dominam o debate público.
Embora eu tenha apreciado mais os textos de Marcia Tiburi e Vladimir Safatle – pela clareza e relevância das discussões –, reconheço o valor coletivo da obra como um todo. Cada autor contribui à sua maneira para expandir nossa compreensão sobre a pós-verdade e suas implicações na política, na arte e na subjetividade humana.
Ao terminar a leitura, fiquei com uma sensação: se vivemos numa era em que a realidade se tornou líquida e manipulável, qual será o futuro da ética? Como o amanhã resistirá à tentação de moldar verdades conforme os interesses do lucro? Acho que não quero pensar nas respostas…
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