Nesta série, invertemos o ângulo pelo qual um caso de abuso sexual normalmente é tratado para mirá-lo sob um novo prisma: o da cobertura na imprensa.

Por trás da explosão de denúncias contra o ex-líder espiritual João de Deus, acusado de estuprar mais de 300 mulheres, estava uma jornalista que enfrentou, dentro da própria redação, uma corrida de obstáculos para que um furo de reportagem fosse publicado.

A partir das denúncias de vítimas de João Teixeira de Faria, conhecido como João de Deus, a repórter Cristina Fibe refez seus passos na cobertura de um dos maiores escândalos sexuais do Brasil e ouviu outras jornalistas, sobretudo mulheres, que tiveram seus caminhos profissionais cruzados com as histórias de vítimas e algozes. E, ao contar as histórias de outros colegas de profissão, Cristina reflete sobre a cobertura da violência de gênero no Brasil, que não raro se contenta com a exploração do sofrimento das vítimas, sem cobrar punição para seus algozes.

Mesmo condenado a quase cinco séculos de prisão em regime fechado, João Teixeira de Faria ficou apenas 15 meses na cadeia, e desde 2020 está confinado em sua mansão, no interior de Goiás. A Casa de Dom Inácio de Loyola, local dos crimes, segue aberta ao público. Nem seus cúmplices nem os crimes de outras naturezas (homicídio, lavagem de dinheiro, estelionato e coação, para citar alguns) estão sendo investigados.

Silenciadas é uma série sobre jornalismo e sobre as vozes das mulheres.

Cristina Fibe é jornalista e escritora especializada na cobertura de violência contra a mulher. No jornal O Globo, atuou para revelar os estupros cometidos pelo então celebrado médium João Teixeira de Faria, em 2018, e aprofundou as investigações sobre o caso para o livro “João de Deus — O abuso da fé” (Globo Livros, 2021). É colunista do portal UOL.