Como comunicar com o corpo inteiro? Cristina Carvalhal Podcast Por  capa

Como comunicar com o corpo inteiro? Cristina Carvalhal

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Sobre este título

Comunicar é expor-se. É escutar. É estar. Nesta conversa intensa e delicada, a atriz e encenadora Cristina Carvalhal partilha o que aprendeu em décadas de palco sobre a arte de comunicar com o corpo inteiro — e sobre o que o teatro pode ensinar à vida. “Comunicar é dar-se aos outros”, diz, com a serenidade de quem sabe que a voz é mais do que som: é presença. Mas esta conversa vai muito além do teatro. Fala de empatia, de atenção e da forma como o corpo, a respiração e o silêncio moldam tudo o que dizemos — e o que deixamos por dizer. O silêncio como espelho Vivemos num tempo em que o silêncio assusta. Mas Cristina Carvalhal lembra que há silêncios que oprimem e silêncios que curam; silêncios que afastam e outros que aproximam. Saber distingui-los é um ato de escuta profunda — e talvez uma das competências mais urgentes do nosso tempo. O teatro ensina isso todos os dias. O ator aprende a estar em cena sem falar, a ouvir o ar da sala, o rumor do público, o som dos próprios passos. É essa escuta periférica, como Cristina lhe chama, que transforma o gesto em linguagem e o instante em presença. O corpo que fala antes das palavras Muito antes da frase, o corpo já disse tudo. A postura, o olhar, a respiração, o movimento das mãos — cada detalhe é comunicação. O corpo revela disponibilidade ou resistência, confiança ou medo. Por isso, comunicar bem começa sempre por escutar o corpo: saber o que ele anuncia antes da voz. Cristina lembra que, no palco, a voz é uma extensão da respiração. Quem não respira, não comunica. Quem fala sem escutar o ar que o rodeia, perde o compasso do outro. E no mundo da pressa, essa consciência tornou-se rara. A coragem de dizer “não sei” Há momentos em que a melhor resposta é o silêncio. Ou um simples “não sei”. Para Cristina Carvalhal, essa honestidade é libertadora — em cena e na vida. A vulnerabilidade é uma forma de verdade, e comunicar bem é aceitar o que somos, naquele instante, sem disfarces. O nervosismo, diz ela, é só o corpo a lembrar-nos que o momento é importante. Transformar o medo em presença é o primeiro passo para falar com autenticidade. O erro como matéria-prima “Em processo criativo não há erro”, diz Cristina. No teatro, o erro é o ensaio da descoberta. Na vida, devia ser igual. O erro é um desvio que nos mostra novos caminhos, se houver espaço para a confiança e a escuta. Uma boa comunicação — em palco, em equipa ou em família — nasce desse espaço de segurança onde o erro não humilha, mas ensina. Cuidar do jardim comu No final da conversa, surge uma metáfora luminosa: “cuidar do jardim”. Cuidar do jardim interior — o lugar da atenção, da empatia, da escuta. E cuidar do jardim comum — o espaço público, a convivência, a cidadania. Num tempo em que o ruído domina e a agressividade parece regra, esta imagem é um apelo à responsabilidade coletiva: a comunicação é também um ato político. A forma como falamos uns com os outros define o mundo em que vivemos. A lição do teatro para todos nós Esta entrevista não é apenas sobre teatro — é sobre a vida. Sobre a forma como podemos ser mais conscientes nas conversas, mais atentos aos sinais, mais humanos na forma como lideramos, ensinamos ou simplesmente convivemos. Cristina Carvalhal mostra-nos que comunicar é cuidar: do corpo, da voz, do outro e do tempo. E lembra-nos que a empatia não é um talento, é uma prática diária. Lições essenciais de comunicação deste episódio Escute com o corpo, não apenas com os ouvidos. Aceite o nervosismo: é sinal de verdade, não de fraqueza. Dê espaço ao erro — ele faz parte do diálogo. Use o silêncio como aliado: é nele que o outro se reconhece. Cure o seu jardim — o pessoal e o coletivo.
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