Antropocast: navegando pela Antropologia Podcast Por Fred Lucio capa

Antropocast: navegando pela Antropologia

Antropocast: navegando pela Antropologia

De: Fred Lucio
Ouça grátis

Sobre este título

Bem vindes a bordo. Embora conhecida como a ciência do ser humano, a Antropologia continua misteriosa pra maioria das pessoas. Concebendo a aventura antropológica como uma viagem marítima, convidamos os que gostam de navegar pelo conhecimento, a explorar esta fascinante área do saber. Este é um projeto de popularização da ciência e de educação com produção de material didático (mini aulas introdutórias de antropologia) em formato de podcast. Prontos pra iniciar essa viagem? Vamos nessa, pessoal! Siga-nos no Instagram: @antropocast Produção: Fred Lucio Website: https://fredlucio.netFred Lucio Ciências Ciências Sociais
Episódios
  • 56. Culturalismo: Franz Boas
    Sep 7 2025

    Franz Boas não começou como antropólogo. Formado em física com foco em geografia, lançou-se em 1883 à Ilha de Baffin, no Canadá, para estudar a relação entre meio ambiente e vida humana. Queria medir gelo, registrar marés e desenhar mapas, mas encontrou algo decisivo que proporcionou uma guinada em sua carreira e, principalmente, na antropologia: um povo capaz de transformar um dos climas mais hostis do planeta em espaço de vida e memória. Entre os inuítes, Boas descobriu que a geografia não bastava para explicar a condição humana.



    Essa experiência o levou a romper com o determinismo geográfico, teoria forte do século XIX que afirmava que clima e relevo moldavam automaticamente a cultura. Além de aproximá-lo ainda mais dos estudos sobre as relações entre a mente humana e a cultura. O mergulho na análise dos mitos foi fundamental para isso.



    Ao observar que povos vivendo sob condições semelhantes criam formas de vida diferentes, Boas inverteu a lógica: não é o meio que determina mecanicamente a cultura, mas a cultura que interpreta e recria o meio. Da mesma forma, ao observar que um povo aparentemente simples produzia uma cultura riquíssima e sofisticada, redesignou os estudos sobre as relações entre raça e cultura.



    Dessa crítica nasceu seu particularismo histórico e o relativismo cultural: a ideia de que cada sociedade deve ser entendida em sua própria trajetória, sem esquemas universais como os supostos determinantes raciais e geográficos. .



    Essa postura orientou sua análise sobre o mito. Contra a visão evolucionista, que os tratava como resquícios de uma mentalidade primitiva, Boas mostrou que os mitos são documentos históricos e literários, enraizados na vida social.



    A narrativa de Sedna, a deusa do mar entre os inuítes (e outros povos do ártico), não é superstição: assim como acontece nas tradições dos monoteísmos da cultura ocidental, organiza rituais, regula a caça, traduz tensões entre humanos e animais, transmite valores morais.



    Para Boas, o mito não tem uma função universal de explicar a natureza; deve ser compreendido em seu contexto, como expressão simbólica e criativa de problemas humanos. E mais: suas variações manifestas em vários povos, podem nos ajudar a redesenhar as ideias do difusionismo cultural, tão em voga em sua época.



    Assim, o geógrafo se fez antropólogo. A recusa dos determinismos, o redesenho da leitura difusionista e a valorização do mito como forma legítima de pensamento abriram caminho para o culturalismo norte-americano. Com Boas, o mito deixou de ser visto como superstição e tornou-se expressão da dignidade cultural dos povos, base de uma antropologia fundada na etnografia, no empirismo, no relativismo e no respeito à pluralidade.


    Mito de Sedna narrado por Christiane Coutheux.

    Siga-nos no Instagram: @antropocast


    Exibir mais Exibir menos
    49 minutos
  • 55. Mito: a perspectiva culturalista
    Aug 23 2025

    Depois da pausa que fizemos em nossas análises sobre o mito e sobre as escolas de pensamento na Antropologia, vamos retomar a nossa navegação pelo mito.


    Neste episódio, vamos tratar de uma das mais importantes teorias antropológicas: o Culturalismo Estadunidense.


    Como já vimos há alguns episódios, no final do século XIX, a antropologia ainda acreditava em uma escada de “evolução cultural”, colocando a Europa industrial no topo e rotulando outros povos como “atrasados”.


    Assim como o Funcionalismo Britânico, o Culturalismo Estadunidense, liderado por Franz Boas - mas com outros grandes nomes, a maioria discípulos seus -, quebrou essa lógica: cada cultura tem sua própria história, seus valores e formas de viver.


    Essa visão consolidou o relativismo cultural (que nós já analisamos num episódio específico) — a ideia de que não devemos julgar uma cultura com os padrões de outra. Mitos, rituais e costumes não são “restos do passado”, mas expressões legítimas de como cada sociedade enxerga e organiza o mundo.


    Mais do que uma teoria, o culturalismo foi um ato de valorização da diversidade humana e um enfrentamento ao racismo e às hierarquias culturais. Foi uma das primeiras, mais contundentes e fortes teorias a nos lembrar que não existe cultura superior ou inferior: existem diferentes maneiras de ser humano.


    Participação especial: Fábio Hakym (na leitura do mito Kwakiutl sobre a origem da constelação da Ursa Maior).


    Siga-nos no Instagram: @antropocast


    Exibir mais Exibir menos
    57 minutos
  • 54. Transumanismo, Pós-humanismo e Antropotécnica (parte 2)
    Aug 12 2025

    Continuando a conversa com o filósofo Marcos Silva e Silva, neste episódio refletimos sobre Antropotécnica, retomando suas relações com o transumanismo, pós-humanismo e a biotecnologia.


    Como foi visto no episódio anterior (e será retomado aqui), o transumanismo, ao defender o aprimoramento radical da condição humana por meio da tecnologia, e o pós-humanismo, ao questionar os limites ontológicos do 'humano', tensionam as fronteiras entre natureza e cultura, orgânico e artificial.


    Nesse diálogo, a antropotécnica — enquanto conjunto de técnicas de modelagem do humano — emerge como um campo privilegiado para interrogarmos: que formas de vida estamos criando? Como ficam as questões éticas e morais nesse cenário?


    O diálogo entre Filosofia e Antropologia revela-se essencial para decifrar os desafios do transumanismo e das antropotécnicas. Enquanto a primeira problematiza os fundamentos éticos e ontológicos da transformação humana (como em Peter Sloterdijk, Martin Heidegger ou Giorgio Agamben), a segunda expõe como essas tecnologias são assimiladas, ressignificadas ou resistidas em contextos culturais específicos, como em Donna Haraway. A Antropologia nos lembra que toda técnica é culturalmente situada — seja a edição genética, as próteses digitais ou os algoritmos de IA.


    Juntas, elas desvendam não apenas o que o humano pode vir a ser, mas também como esses projetos são vividos e contestados — evitando tanto a abstração filosófica desenraizada quanto o relativismo antropológico sem crítica.


    O antropocast propõe a interdisciplinaridade como um caminho possível contra reducionismos.


    No episódio, ao navegarmos por estas reflexões, nós nos perguntamos: como reimaginar a humanidade sem reproduzir velhas hierarquias, agora sob novos disfarces tecnológicos? Quem é esse ser humano que estamos construindo? Qual o papel da memória, da ancestralidade, da nossa história na singularidade humana?


    Siga-nos no Instagram: @antropocast


    Exibir mais Exibir menos
    57 minutos
Ainda não há avaliações