Antropocast: navegando pela Antropologia Podcast Por Fred Lucio capa

Antropocast: navegando pela Antropologia

Antropocast: navegando pela Antropologia

De: Fred Lucio
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Sobre este áudio

Bem vindes a bordo. Embora conhecida como a ciência do ser humano, a Antropologia continua misteriosa pra maioria das pessoas. Concebendo a aventura antropológica como uma viagem marítima, convidamos os que gostam de navegar pelo conhecimento, a explorar esta fascinante área do saber. Este é um projeto de popularização da ciência e de educação com produção de material didático (mini aulas introdutórias de antropologia) em formato de podcast. Prontos pra iniciar essa viagem? Vamos nessa, pessoal! Siga-nos no Instagram: @antropocast Produção: Fred Lucio Website: https://fredlucio.netFred Lucio Ciências Ciências Sociais
Episódios
  • 50. Estrutural Funcionalismo: Evans-Pritchard
    Apr 20 2025

    Edward Evan Evans-Pritchard (1902-1973) é uma das figuras mais notáveis da antropologia britânica do século XX, e sua trajetória intelectual reflete uma transformação profunda no modo como a disciplina concebe seus objetos, métodos e fundamentos epistemológicos.


    Inicialmente influenciado pelo estrutural-funcionalismo de Radcliffe-Brown, com quem manteve relações acadêmicas próximas, Evans-Pritchard começou sua carreira preocupado com a organização social e os sistemas de parentesco, realizando extensos trabalhos de campo entre os Azande e os Nuer no Sudão.


    Suas etnografias, como

    Witchcraft, Oracles and Magic among the Azande e The Nuer, são consideradas clássicos por sua profundidade analítica e por seu compromisso com o método empírico.


    No entanto, já nesses trabalhos, é possível notar um deslocamento em relação à tradição funcionalista: ao invés de apenas buscar a função social das práticas, ele começa a valorizar a lógica interna das culturas estudadas, reconhecendo que o pensamento nativo possui uma racionalidade própria.


    Esse deslocamento teórico se consolida nos anos 1950, quando Evans-Pritchard passa a defender uma concepção da antropologia não mais como ciência natural, mas como ciência do espírito, próxima da história e da filosofia.


    Inspirado por R.G. Collingwood e Wilhelm Dilthey, ele propõe que a tarefa do antropólogo é a reconstrução interpretativa dos sistemas simbólicos, e não a explicação causal de fenômenos sociais.


    Essa perspectiva hermenêutica é fortemente visível em

    Nuer Religion, obra em que a religião é tratada como expressão existencial e simbólica, e não como mero reflexo de estruturas sociais.


    Suas reflexões sobre tradução cultural, o papel da fé, os limites do racionalismo e as tensões entre ciência e crença revelam um autor que busca incessantemente conciliar sua formação acadêmica com uma profunda sensibilidade ao humano.

    Evans-Pritchard também exerceu influência institucional duradoura, consolidando Oxford como centro de excelência em antropologia e formando gerações de pesquisadores.


    Embora tenha sido criticado por não problematizar suficientemente o colonialismo, sua obra representa uma inflexão decisiva rumo a uma antropologia mais ética, reflexiva e comprometida com a escuta e a alteridade.


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  • 49. Funcionalismo: Bronislaw Malinowski
    Apr 8 2025

    Bronislaw Malinowski revolucionou a antropologia ao criar o método etnográfico durante seu trabalho de campo nas Ilhas Trobriand, onde viveu intensamente a vida nativa, entre 1915 e 1918. Um dos trabalhos de campo mais prolongados da história da Antropologia.


    Sua abordagem inovadora – a observação participante – substituiu os estudos de gabinete de seus predecessores – ou mesmo o trabalho etnográfico sem a devida imersão, que já era realizado à sua época –, mostrando que para entender uma cultura era preciso vivenciá-la (e não apenas "visitá-la").


    Seu funcionalismo psicobiológico propunha que todas as instituições culturais atendem a necessidades humanas básicas: biológicas (como alimentação), instrumentais (organização social), afetivo-emocionais (enfrentamento do medo e da insegurança) e integrativas (religião, comunicação, arte).


    Ele mostrou que os mitos não eram meras histórias, mas "cartas de autoridade" que legitimavam normas, transmitiam conhecimentos práticos e ofereciam conforto psicológico. Ao analisar a religião e a magia, revelou seu caráter pragmático: os rituais mágicos dos trobriandeses surgiam apenas em situações de risco (como pesca em alto-mar), nunca em atividades controláveis, funcionando como mecanismos para reduzir a ansiedade.


    Seu estudo do Kula, sistema de trocas cerimoniais, mostrou como mito, magia e economia se entrelaçavam numa instituição total que criava alianças entre ilhas.


    Malinowski superou o evolucionismo ao provar que essas culturas não era nada primitivas e que possuíam uma lógica funcional e instrumental, o que as igualava à lógica europeia. Apenas com soluções diferentes para problemas humanos universais.


    Seu legado permanece ao ensinarmos que, para compreender qualquer prática cultural, devemos perguntar sobre seu funcionamento na vida real das pessoas daquela comunidade.


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  • 48. Estrutural-Funcionalismo: Radcliffe-Brown
    Apr 1 2025

    A visão de Alfred Radcliffe-Brown sobre mito e religião está profundamente ancorada em sua proposta de funcionalismo estrutural. Para ele, a importância social dessas práticas culturais não se limite a serem expressões subjetivas de fé, mas por desempenharem papéis fundamentais na manutenção da coesão social e da estrutura organizacional das sociedades humanas.

    Em vez de buscar a origem dos mitos ou a verdade das crenças, Radcliffe-Brown queria entender o que essas narrativas e rituais fazem dentro do sistema social — ou seja, qual a sua função.

    Na sua perspectiva, o mito é uma narrativa simbólica que legitima e reforça normas sociais, justificando regras de conduta, papéis sociais e instituições. Ele ajuda a dar sentido à organização da vida coletiva e sustenta o tecido moral da sociedade. Já a religião é entendida como uma instituição coletiva, onde os rituais funcionam como meios para reafirmar valores compartilhados, fortalecer laços entre os membros do grupo e manter a ordem social. Tanto o mito quanto a religião são vistos, assim, como instrumentos que mantêm a sociedade em equilíbrio e garantem sua reprodução ao longo do tempo.

    Radcliffe-Brown analisou essas ideias na prática em campo, já incorporando o espírito do método etnográfico. Entre os nativos australianos, por exemplo, observou como os mitos totêmicos estruturavam regras de exogamia e fortaleciam os vínculos entre clãs. Já entre os Lozi da África Ocidental, mostrou como o culto aos ancestrais servia para legitimar a autoridade política e mediar conflitos sociais. Em ambos os casos, ficou claro para ele que a função dos mitos e rituais não era simplesmente religiosa ou simbólica, mas estrutural — eles ajudavam a organizar a vida social como um todo.

    Apesar das críticas que vieram depois — principalmente pela falta de atenção à mudança social e à agência individual —, Radcliffe-Brown foi pioneiro ao propor que mito e religião devem ser estudados como partes integrantes de um sistema social interdependente. Seu trabalho abriu caminho para uma compreensão mais sociológica da religião e inspirou gerações de antropólogos a olhar para além das crenças, enxergando os rituais e narrativas como formas de moldar e sustentar a convivência humana.

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