• 52. Observar, Viver, Traduzir: três modos de habitar a diferença na Antropologia Britânica (parte 2)
    Jun 28 2025

    Seguindo o balanço entre os três grandes da Antropologia Britânica (Malinowski, Radcliffe-Brown e Evans-Pritchard), constatamos que não estamos apenas diante de três grandes nomes da antropologia — mas de três formas distintas de enxergar o outro e de produzir conhecimento na antropologia.


    Neste episódio vamos aprofundar um pouco mais quem é esse outro para cada um dos três.

    Suas diferentes formas de ver o outro se refletem diretamente em estilos de produção de conhecimento e de uma escrita antropológica.


    Para concluir o episódio, analisamos que se trata de uma questão epistemológica: qual deve ser o papel da antropologia para cada um deles e, consequentemente, em que isso nos ajuda a pensar a antropologia hoje.

    Essas diferenças sintetizam aquilo que foi chamado aqui de três modos de habitar a diferença (e a própria antropologia).

    Encerrando nossa expedição pela Antropologia Britânica, o episódio é um convite a navegar por esses mares e pensar: qual é, afinal, a nossa forma de habitar essa ciência chamada antropologia?


    Agradecimento espeical à minha querida amiga Andréa Abrahão Costa, narradora do texto introdutório do episódio.


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    1 hora e 3 minutos
  • 51. Observar, Conviver, Traduzir: três modos de habitar a diferença na Antropologia Britânica (Parte 1)
    Jun 16 2025

    Este episódio é a primeira parte de um balanço crítico sobre três grandes da antropologia britânica que trabalhamos até aqui, em episódios anteriores: Radcliffe-Brown, Malinowski e Evans-Pritchard.


    Mais do que nomes fundadores, eles representam três modos de conhecer o outro e construir o fazer antropológico: observar, conviver e traduzir.


    A partir dessa tríade conceitual, percorremos três eixos fundamentais: quem é esse "outro" estudado pelo(a) antropólogo (a); quem é esse(a) antropólogo(a)? o que é o conhecimento produzido e como o(a) antropólogo(a) deve agir para tornar esta produção possível?


    Esse dois episódios são, portanto, mais que uma comparação: é um convite à reflexão crítica sobre as heranças, limites e possibilidades de pensar a antropologia não como uma ciência positiva, mas como ciência da presença, da convivência, da tradução e da interpretação.


    Vem navegar com a gente!


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    52 minutos
  • 50. Estrutural Funcionalismo: Evans-Pritchard
    Apr 20 2025

    Edward Evan Evans-Pritchard (1902-1973) é uma das figuras mais notáveis da antropologia britânica do século XX, e sua trajetória intelectual reflete uma transformação profunda no modo como a disciplina concebe seus objetos, métodos e fundamentos epistemológicos.


    Inicialmente influenciado pelo estrutural-funcionalismo de Radcliffe-Brown, com quem manteve relações acadêmicas próximas, Evans-Pritchard começou sua carreira preocupado com a organização social e os sistemas de parentesco, realizando extensos trabalhos de campo entre os Azande e os Nuer no Sudão.


    Suas etnografias, como

    Witchcraft, Oracles and Magic among the Azande e The Nuer, são consideradas clássicos por sua profundidade analítica e por seu compromisso com o método empírico.


    No entanto, já nesses trabalhos, é possível notar um deslocamento em relação à tradição funcionalista: ao invés de apenas buscar a função social das práticas, ele começa a valorizar a lógica interna das culturas estudadas, reconhecendo que o pensamento nativo possui uma racionalidade própria.


    Esse deslocamento teórico se consolida nos anos 1950, quando Evans-Pritchard passa a defender uma concepção da antropologia não mais como ciência natural, mas como ciência do espírito, próxima da história e da filosofia.


    Inspirado por R.G. Collingwood e Wilhelm Dilthey, ele propõe que a tarefa do antropólogo é a reconstrução interpretativa dos sistemas simbólicos, e não a explicação causal de fenômenos sociais.


    Essa perspectiva hermenêutica é fortemente visível em

    Nuer Religion, obra em que a religião é tratada como expressão existencial e simbólica, e não como mero reflexo de estruturas sociais.


    Suas reflexões sobre tradução cultural, o papel da fé, os limites do racionalismo e as tensões entre ciência e crença revelam um autor que busca incessantemente conciliar sua formação acadêmica com uma profunda sensibilidade ao humano.

    Evans-Pritchard também exerceu influência institucional duradoura, consolidando Oxford como centro de excelência em antropologia e formando gerações de pesquisadores.


    Embora tenha sido criticado por não problematizar suficientemente o colonialismo, sua obra representa uma inflexão decisiva rumo a uma antropologia mais ética, reflexiva e comprometida com a escuta e a alteridade.


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  • 49. Funcionalismo: Bronislaw Malinowski
    Apr 8 2025

    Bronislaw Malinowski revolucionou a antropologia ao criar o método etnográfico durante seu trabalho de campo nas Ilhas Trobriand, onde viveu intensamente a vida nativa, entre 1915 e 1918. Um dos trabalhos de campo mais prolongados da história da Antropologia.


    Sua abordagem inovadora – a observação participante – substituiu os estudos de gabinete de seus predecessores – ou mesmo o trabalho etnográfico sem a devida imersão, que já era realizado à sua época –, mostrando que para entender uma cultura era preciso vivenciá-la (e não apenas "visitá-la").


    Seu funcionalismo psicobiológico propunha que todas as instituições culturais atendem a necessidades humanas básicas: biológicas (como alimentação), instrumentais (organização social), afetivo-emocionais (enfrentamento do medo e da insegurança) e integrativas (religião, comunicação, arte).


    Ele mostrou que os mitos não eram meras histórias, mas "cartas de autoridade" que legitimavam normas, transmitiam conhecimentos práticos e ofereciam conforto psicológico. Ao analisar a religião e a magia, revelou seu caráter pragmático: os rituais mágicos dos trobriandeses surgiam apenas em situações de risco (como pesca em alto-mar), nunca em atividades controláveis, funcionando como mecanismos para reduzir a ansiedade.


    Seu estudo do Kula, sistema de trocas cerimoniais, mostrou como mito, magia e economia se entrelaçavam numa instituição total que criava alianças entre ilhas.


    Malinowski superou o evolucionismo ao provar que essas culturas não era nada primitivas e que possuíam uma lógica funcional e instrumental, o que as igualava à lógica europeia. Apenas com soluções diferentes para problemas humanos universais.


    Seu legado permanece ao ensinarmos que, para compreender qualquer prática cultural, devemos perguntar sobre seu funcionamento na vida real das pessoas daquela comunidade.


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  • 48. Estrutural-Funcionalismo: Radcliffe-Brown
    Apr 1 2025

    A visão de Alfred Radcliffe-Brown sobre mito e religião está profundamente ancorada em sua proposta de funcionalismo estrutural. Para ele, a importância social dessas práticas culturais não se limite a serem expressões subjetivas de fé, mas por desempenharem papéis fundamentais na manutenção da coesão social e da estrutura organizacional das sociedades humanas.

    Em vez de buscar a origem dos mitos ou a verdade das crenças, Radcliffe-Brown queria entender o que essas narrativas e rituais fazem dentro do sistema social — ou seja, qual a sua função.

    Na sua perspectiva, o mito é uma narrativa simbólica que legitima e reforça normas sociais, justificando regras de conduta, papéis sociais e instituições. Ele ajuda a dar sentido à organização da vida coletiva e sustenta o tecido moral da sociedade. Já a religião é entendida como uma instituição coletiva, onde os rituais funcionam como meios para reafirmar valores compartilhados, fortalecer laços entre os membros do grupo e manter a ordem social. Tanto o mito quanto a religião são vistos, assim, como instrumentos que mantêm a sociedade em equilíbrio e garantem sua reprodução ao longo do tempo.

    Radcliffe-Brown analisou essas ideias na prática em campo, já incorporando o espírito do método etnográfico. Entre os nativos australianos, por exemplo, observou como os mitos totêmicos estruturavam regras de exogamia e fortaleciam os vínculos entre clãs. Já entre os Lozi da África Ocidental, mostrou como o culto aos ancestrais servia para legitimar a autoridade política e mediar conflitos sociais. Em ambos os casos, ficou claro para ele que a função dos mitos e rituais não era simplesmente religiosa ou simbólica, mas estrutural — eles ajudavam a organizar a vida social como um todo.

    Apesar das críticas que vieram depois — principalmente pela falta de atenção à mudança social e à agência individual —, Radcliffe-Brown foi pioneiro ao propor que mito e religião devem ser estudados como partes integrantes de um sistema social interdependente. Seu trabalho abriu caminho para uma compreensão mais sociológica da religião e inspirou gerações de antropólogos a olhar para além das crenças, enxergando os rituais e narrativas como formas de moldar e sustentar a convivência humana.

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  • 47. Feminicídio, Gênero e outros assuntos
    Mar 8 2025

    Neste episódio, Antropocast convida Heloísa Buarque de Almeida (FFLCH/USP) e Tatiana Amendola (ESPM) para um bate papo sobre Feminicídio, Violência contra mulher (e de gênero, por extensão), Feminismo e outros assuntos correlatos.

    Esta foi uma conversa gravada em 2020, recuperada para relançamento por continuar extremamente atual, além de ser uma bela aula sobre questões de gênero na antropologia.


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    58 minutos
  • 46. Mito: a perspectiva funcionalista
    Feb 3 2025

    Estamos em nossa terceira expedição: uma exploração nesta fabulosa ilha do Mito, onde estamos ancorados.


    Neste episódio vamos começar a explorar o Mito sob a ótica da Teoria Funcionalista (também chamada de Funcionalismo Britânico) . E, para começar, vamos entender o que é exatamente uma abordagem funcionalista dos fatos da sociedade e da cultura.


    O Funcionalismo nas ciências sociais, especialmente na Antropologia e na Sociologia, é uma linha teórica consolidada por Durkheim e em 1937 teria sido assim batizada por Malinowski em um artigo que ele escreveu para a

    Encyclopaedia Britannica. Seu foco é pensar a sociedade como um sistema composto de partes interdependentes.


    Cada instituição, prática ou norma dentro de um contexto social desempenha uma função específica que contribui para a coesão e estabilidade social.


    Inspirado pela biologia, essa abordagem sugere que, assim como órgãos no corpo humano estão associados num sistema para manter a saúde, o equilíbrio do corpo, diferentes instituições sociais (como a família, a religião e o governo) também trabalham juntas para manter a sociedade em equilíbrio. O foco está em entender como as normas e valores são internalizados pelos indivíduos, garantindo o funcionamento harmonioso do todo.


    O Funcionalismo rejeita o modelo diacrônico, universalista e historicamente determinista do Evolucionismo, que classificava as sociedades em uma escala linear e universal de progresso. Em vez disso, ele analisa cada sociedade dentro de seu próprio contexto, com foco no presente e nas funções que as instituições exercem agora.


    Junto com o Culturalismo Norte-Americano, o Funcionalismo introduziu um rigor científico consistente na Antropologia, especialmente ao criar o método etnográfico.


    Vamos entender melhor os pontos centrais desta teoria antes de entrarmos nas análises de Malinowski, Radcliffe-Brown e Evans-Pritchard sobre o fenômeno do mito.


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    A trilha sonora utilizada neste episódio é livre de direitos autorais.

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  • 45. Evolucionismo: Lucien Lévy-Bruhl
    Jan 18 2025

    Neste episódio, o Antrpocast te convida a embarcar numa viagem fascinante pelo pensamento do último dos pensadores evolucionistas que estamos analisando: Lucien Lévy-Bruhl.


    Ele foi um filósofo francês que, bastante influenciado pelos trabalhos de Tylor e sobretudo de James Frazer, lá no início do século XX, mergulhou na antropologia, intrigado com a forma como os diferentes povos interpretam o mundo.


    Sua formação orignial foi no campo da Filosofia Moral. No entanto, como professor da Sorbonne e colega de Durkheim, foi bastante influenciado pelos ventos da Escola Sociológica Francesa (e também do positivismo de Augusto Comte), trazendo um viés empírico para suas preocupações com a moral: ele quer investigar como exatamente as sociedades criam e veiculam os valores que orientam os comportamentos das pessoas: e é aí que entra o mito!


    Ao investigar as histórias aparentemente irracionais dos mitos e os fenômenos místicos das religiões das sociedades ditas "primitivas", ele procura entender de que maneira isso pode revelar o funcionamento da mentalidade desses povos.


    Para isso, ele vai desenvolver dois conceitos importantes: mentalidade pré-lógica e participação mística.


    Importante compreender que por "pré-lógico" ele não indica que esses povos sejam "irracionais" ou "menos inteligentes" do que os povos ocidentais. Significava que ainda não tinham atingido o estágio conquistado pela lógica formal tal como posta pela tradição do pensamento ocidental, que ele entende como sendo o mais sofisticado.


    A ideia é que as experiências de mundo vividas por estas sociedades eram permeadas por uma visão mágica e simbólica que é diferente do pensamento analítico e científico predominante no Ocidente.


    O conceito de "participação mística" é um dos conceitos que o tornaram conhecido. Essa ideia descreve como, nas sociedades tradicionais, as pessoas não se veem separadas do mundo natural ou do sobrenatural — elas se sentem conectadas a tudo ao seu redor, desde animais e plantas até os espíritos e deuses.


    Nesse contexto, o mito funciona como uma espécie de “língua” que expressa essa conexão profunda.


    Outro ponto fascinante é como ele via a coexistência dessas mentalidades. Mesmo em culturas modernas, Lévy-Bruhl acreditava que o pensamento mítico não desaparecia completamente. Quer um exemplo? Pense em superstições, horóscopos, ou na forma como muitas pessoas interpretam coincidências como "sinais do destino". Isso mostra que o mágico e o racional convivem dentro de nós.


    Mas é claro, as ideias de Lévy-Bruhl não passaram sem críticas. Muitos estudiosos disseram que sua abordagem dava margem a interpretações etnocêntricas, sugerindo que o pensamento ocidental era superior.


    Com o tempo, sua visão foi sendo revisada e aprimorada, mas a noção de que diferentes culturas pensam de formas distintas continua sendo uma contribuição valiosa.


    Então, o que podemos levar da perspectiva de Lévy-Bruhl? O mito, para ele, é uma janela para um modo de experiência do mundo que vai além do racional. Ele nos lembra que existem muitas maneiras de entender e se relacionar com a realidade, e que o pensamento mítico não é algo do passado, mas uma dimensão viva que ainda permeia nossas vidas.


    Ficou curioso? ouça o episódio e aprenda um pouco sobre esse fascinante e importante pensador. E sobre como o pensamento mítico, mágico, místico co-existe com o pensamento científico, lógico.


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    As trilhas sonoras utilizadas neste episódio são livres de direitos autorais.



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