Quando falamos de estética da dependência no cinema brasileiro, não se trata apenas da teoria da dependência de Fernando Henrique Cardoso ou do debate marxista sobre superexploração. Trata-se de entender como o cinema nacional se vincula ao capital externo — ontem e hoje.
Do Cinema Novo aos streamings, essa relação define não apenas a produção, mas os próprios filmes: seus roteiros, protagonistas, estéticas.
Neste episódio, analiso como o Cinema Marginal já fazia, nos anos 60-70, uma crítica mais radical do que a academia faria décadas depois.
TEMAS DISCUTIDOS:
CINEMA DE RESULTADO (redemocratização):
Filmes e protagonistas buscando ascensão individual. Self-made man, meritocracia, ideais do livre mercado no roteiro. Herói ressentido (Ismail Xavier). Estética da fome para cosmética da fome (Ivana Bentes).
CINEMA MARGINAL vs CINEMA NOVO:
Sganzerla e Helena Ignez na Pasquim (1970): crítica ao esquemão. Cinema Novo como empresa fechada que lima novos cineastas. 1968: Bandido da Luz Vermelha limado de Cannes para entrar O Dragão da Maldade. Glauber chama marginais de udigrudes.
A MULHER DE TODOS (Sganzerla, 1969):
Helena Ignez: ex-mulher de Glauber, casada com Bressane. Super feminista que inferioriza intelectuais de classe média. Sátira à intelectualidade cinemanovista.
SEM ESSA, ARANHA (Sganzerla, 1970):
Personagem Aranha: heterodiscurso polifônico. Mistura bordões da burguesia reacionária com discurso revolucionário. Impossível saber se é revolucionário ou reacionário.
SERTÃO IMANENTE vs SERTÃO TRANSCENDENTE:
Glauber (Deus e o Diabo): sertão mítico, metafísico, transcendente. Sganzerla (Copacabana Mon Amour): sertão no Terreiro da Gomeia (Baixada). Favela desce pro calçadão de Copacabana. Sol que enlouquece igual sertão imanente, não transcendente.
CINEMA CONTEMPORÂNEO:
Kleber Mendonça Filho + Neon: filme pensado para Cannes e Oscar. Karim Aïnouz: financiamento estrangeiro, experimentação formal. Cláudio Assis: produção artesanal, sem capital externo. Ainda Estou Aqui e a dependência do circuito internacional.
A crítica radical às relações do cinema com o mercado e o grande capital já estava no Cinema Marginal décadas antes da academia formular isso. Sganzerla rompe com a ideia de decadência pós-Cinema Novo.
CINEASTAS E AUTORES DISCUTIDOS:
Rogério Sganzerla, Helena Ignez, Glauber Rocha, Júlio Bressane, Ismail Xavier, Ivana Bentes, Kleber Mendonça Filho, Karim Aïnouz, Cláudio Assis, Eduardo Coutinho
FILMES MENCIONADOS:
O Bandido da Luz Vermelha, A Mulher de Todos, Sem Essa Aranha, Copacabana Mon Amour, O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro, Deus e o Diabo na Terra do Sol, Ainda Estou Aqui
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Este conteúdo faz parte do curso Estética da Dependência do grupo de estudos CINEPOL, que revisa os ideários do Cinema Novo e suas relações com música, política e mercado.
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Podcast O Abertinho - Ler é um ato subversivo
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